Clara Sodré em: Quanto valor você gera?
Clara Sodré em: Quanto valor você gera?

Sou analista de equities em uma gestora e também tenho uma newsletter onde falo sobre o mercado semanalmente e entrevisto alguns gestores num quadro chamado Compounders.

Quando recebi o convite do Faria Lima Jobs (muito honrada, inclusive!), pensei que fosse interessante contar minha experiência do ponto de vista de alguém que não é formado na área e tampouco veio do eixo Rio-SP.

Me formei no ano passado em Relações Internacionais em Minas Gerais. Fora do eixo, a entrada no mercado é um pouco mais limitada. Especialmente não sendo formada em economia, administração ou alguma engenharia. Morando lá, eu não tinha muitas opções a não ser trabalhar em um banco ou escritório de AAIs. Tinha um banco em especial que crescia absurdamente, e sempre contratava dezenas e dezenas de novos estagiários.

Me inscrevi para todo e qualquer tipo de processo seletivo do banco, que empregava vários dos meus amigos do prédio de economia. Esse foi meu primeiro erro. Imagine o RH recebendo meu currículo recorrentemente para vários processos diferentes.

Quantas aprovações? Zero. Não passei em nenhum.

E acabei de verificar no meu LinkedIn, apliquei para nove desses processos. Mesa de Renda Fixa. Crédito Imobiliário. Abertura de contas (duas vezes). Estagiário de
investimentos (o que quer que isso seja).

E eis o problema de atirar para vários lugares. Você abdica da precisão da pontaria. Qual a interseção entre as habilidades de uma pessoa que trabalha na mesa de renda fixa e na abertura de contas de um banco digital? Pouca ou quase nenhuma. Esse foi meu segundo erro.

Passado um tempo, era 2020, eu havia lido o “Na Raça”, biografia sobre a história do Guilherme Benchimol, e fiquei encantada com o que ele tinha construído com a XP.

Procurei na internet escritórios de assessores da XP na cidade em que eu fazia a
graduação. Entrei no site do maior deles, na época. Nenhum processo seletivo para estágio.

Procurei o e-mail do RH. “O não eu já tenho”, né?

“Oi xxxx, tudo bem?

Meu nome é Clara Sodré, sou estudante de Relações Internacionais. Sei que vocês
geralmente procuram graduandos em economia, administração ou engenharia, então estou mandando este e-mail para saber se, apesar disso, sou o perfil de estudante que vocês contratariam, ou senão, como posso tornar meu curriculum mais competitivo. Sou monitora de macroeconomia e microeconomia, gosto muito de mercado e tenho interesse em fazer carreira. Adoraria aprender mais com vocês, quando abrissem um processo. Obrigada ecordialmente, Clara”.

Uma semana depois um dos assessores do escritório me liga, dizendo que precisava de uma estagiária que fizesse produção de conteúdo sobre mercado e produtos financeiros e entrevistasse alguns gestores dos fundos que mais receberam aportes dos clientes do escritório.

A experiência, ainda que não tão diretamente ligada ao mercado, foi extremamente
enriquecedora. Pude aprender muito sobre produtos, tributação e planejamento financeiro, além de precisar desenvolver minhas habilidades de comunicação e copywriting. Também precisei ter diligência em acompanhar notícias, ler livros sobre o assunto, buscar insights e encontrar bons veículos de informação sobre mercado, o que acabou sendo útil para o que eu faço hoje e desenvolvendo bons soft skills como profissional.

De lá, quando decidi que queria ser analista de equities, fiz o processo inverso. Vi vários processos seletivos para analistas, procurei saber quais eram os pré-requisitos: contabilidade, valuation, raciocínio analítico. Me capacitei para depois prestar os processos. Melhorei a pontaria.

Hoje, olhando para trás, acho que acertei em enviar o e-mail e contar que já admirava a história da companhia. No entanto, também diria não só que queria aprender com eles, mas ser mais clara em como eu posso ajudar. Quando se entra em uma nova empresa e no começo de carreira, é evidente que você quer aprender com a equipe. Acontece que qualquer pessoa com um pouco de obstinação e inteligência quer a mesma coisa que você.

É como um profissional que admiro muito me disse uma vez: não existem barreiras de entrada no nosso business. Como buscar a diferenciação? Como você pode ajudar? Como você agrega para a empresa?

O curriculum é importante, mas é a ponte que te leva até a entrevista. Tudo que está lá, o entrevistador já sabe. O resto é com você. Não só mostrar admiração, mas mostrar como pode ser útil.

Se eu puder sintetizar uma única pergunta que você tem que buscar responder, quando chegar na entrevista, acredito que tem a ver com uma palavra de cinco letras que nós, analistas, buscamos o tempo inteiro na nossa rotina:
Quanto valor você gera?

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